O mercado de consultoria e a transformação digital
Apesar da atividade de “aconselhamento” existir desde que o mundo é mundo, entendemos que o começo da atividade de consultoria, da forma como vemos hoje, começou a existir como profissão em 1886, com o professor do MIT, Arthur D. Litte, que começou a atuar no aconselhamento de empresas que precisavam modernizar a sua produção ou resolver outros assuntos internos. Hoje, em 2022 existe um cenário completamente diferente daquela época, mas o serviço é realizado, em sua grande maioria, exatamente da mesma forma do que há quase 150 anos, ou seja, de forma totalmente analógica, com visitas do consultor às instalações da empresa.
Olhando para o cenário atual, estima-se que a pandemia Covid-19 tenha acelerado a transformação digital das empresas em até 10 anos. Segundo estudo publicado pelo MIT Technology Review em 2021, 45,7% das empresas brasileiras já estão implementando formalmente um processo de transformação digital, 30,5% estão na fase de desenvolvimento de abordagem e apenas 1,9% das empresas não têm um plano formal para esta mudança. Outro estudo recente publicado pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) indica que 83,6% dos entrevistados planejam utilizar mais tecnologias digitais em seu negócio.
Adotar um processo de transformação digital, de forma resumida, significa que a organização precisa implementar 04 pilares em toda a sua operação, desde a venda, até a entrega do produto ou serviço, passando pelas áreas de apoio, que são:
- Foco no cliente, tanto interno quanto externo;
- Resposta instantânea às demandas;
- Flexibilidade no atendimento;
- Agilidade nas entregas.
Como resultado deste contexto, as empresas começaram a adotar em larga escala, a utilização de metodologias ágeis de gerenciamento das atividades, como Scrum, Agile ou Safe, pois as metodologias antigas não suportam mais esta realidade. Com isso, serviços puramente analógicos começam a não se encaixar mais nesta nova realidade de trabalho, por ter um choque de métodos.
É por isso que a reflexão que trago neste texto é: O que o mercado de consultoria está fazendo para se adequar à esta lógica digital? Por quanto tempo estas empresas que correram atrás para se adequarem aos processos ágeis, irão contratar serviços em que precisam parar o dia inteiro para receber uma visita de um consultor?
Para mim é muito claro que a transformação digital da consultoria vai além de um novo canal de atendimento de forma remota, porque levando em consideração os pilares da lógica digital, toda a condução do negócio, desde a criação do ambiente de consultoria, relacionamento e atendimento com cliente, vendas e até mesmo o financeiro precisam estar integrados e disponíveis ao cliente em tempo real, de forma ágil e quando ele tiver disponibilidade.
Para ilustrar o que citei acima, no modelo de trabalho atual, no formato analógico, o centro das atenções é o consultor. A empresa se prepara para receber a visita daquele profissional, conforme a agenda e disponibilidade daquele profissional. Quando entramos na lógica digital, o cliente deve ser o centro das atenções. O cliente deve decidir, quando e como vai dar atenção para aquele projeto, levando em consideração todas as entregas paralelas e o consultor precisa estar disponível naquele momento. A lógica inverte.
Adiciono ainda à esta reflexão, a atividade de auditoria. Até quando os auditores vão achar que podem exigir o que eles querem, sem fazer um esforço real de entender a realidade do cliente e as novas realidades impostas pelo mundo digital?
Além do fator tecnologia, qual será o repertório de soluções que o consultor/ auditor, que não estão integrados no contexto digital, terão para realmente ajudar a empresa nos novos desafios que surgem nesta nova realidade? Isso porque os problemas hoje são outros, gerados por este novo ambiente.
O quanto que as metodologias atuais de trabalho do consultor estão adequadas às metodologias ágeis? Como as empresas de consultoria pretendem interagir no metaverso, que está batendo na porta, se não conseguem ter sua consultoria estabelecida em um ambiente digital? Como as auditorias podem ser realizadas neste novo ambiente, fazendo simulações reais para entender a realidade dinâmica de atuação e não estática de um registro preenchido?
Quanto tempo este mercado ainda tem de vida neste formato? Mais 02, 05 anos…?
Eu, que já atuo em consultoria digital há mais de 10 anos, me preocupo realmente com o futuro do nosso mercado, porque aqui na Templum temos a crença que o mercado precisa crescer junto. Entendemos que uma andorinha sozinha não faz verão, e que mesmo nós, perdemos muito por este atraso.
Não restam dúvidas que este momento de revolução tecnológica está só no começo e que muitas transformações ainda estão por vir, com o advento do Metaverso e NFTs, e todas as profissões existentes hoje, terão algum tipo de impacto, inclusive a consultoria. As empresas que ultrapassarem este ponto de não retorno entre o analógico e o digital encontrarão um cenário fértil de atuação, com base nas atuais e nas novas necessidades do mercado, porém o tempo é curto e implacável e já está correndo.
Aqui na Templum temos discutido incansavelmente sobre o futuro da nossa atividade e temos varias novidades super legais sendo publicada aos poucos. Porém, ontem, eu recebi um relatório de auditoria de certificação de um cliente *orgulho*, daqueles que realmente entenderam o jogo, e para a minha tristeza tinha um apontamento (entre outros que não faziam sentido, mas não vem ao caso) porque determinado procedimento não constava a hierarquia de documentos. Esta tristeza me motivou a escrever este artigo para uma reflexão sobre a importância de pensarmos a nossa atividade sob outra perspectiva. Não dá para fazermos consultoria / auditoria do mesmo jeito que há 10 anos. Temos que ter um ponto da virada!