Ao implementar algum sistema de gestão, seja ele as ISO 9001, ISO 14001, ISO 22000, entre outros, é normal que um ar de desconfiança surja. Enfim, não tem como implementar um sistema e não se deparar com alguma oportunidade de melhoria.
O novo costuma gerar desconforto! Frases como “faço desta forma a mais de 10 anos, sempre deu certo…” ou “time que está ganhando não se mexe” são as mais comuns quando alguma novidade é proposta em alguma reunião da empresa.
As diferentes fontes de resistência à mudança
Não pense que a resistência é só por parte dos funcionários. Existem diferentes fontes que impõem barreiras ao novo. As vezes a própria alta direção é a origem de uma alteração não ocorrer.
Dica de leitura: A ISO 9001 e a Resistência à Mudança
Os autores Brown, Hithcock e Willard¹ relatam em seu livro uma lista de empecilhos encontrados na implementação de programas de qualidade em empresas americanas. Dentre os principais motivos identificados pelos autores, estão:
- O alto escalão da empresa – gestores e diretores – não demonstra comprometimento com o programa;
- Somente após muita pressão externa permite-se o início da implementação de um programa;
- A equipe diretora utiliza-se de elementos de ameaças para impor aos colaboradores as mudanças;
- Centralizar o poder na mão de uma só pessoa;
- Estabelecer normas para a melhoria da qualidade sem entender a situação real da organização;
- Decisões tomadas erroneamente por falta de conhecimento técnico;
- Fornecer treinamentos ineficazes em conceituação de qualidade, liderança e utilização de ferramentas da qualidade.
O que fazer com a resistência à mudança?
Diante deste cenário de desafios, os estudiosos Wood Jr. e Urdan² compartilham algumas lições valiosas para superar os obstáculos impostos pela resistência às mudanças. Estas práticas servem tanto para quem está em processo de implementação de um sistema de gestão como a ISO 9001 ou para quem está desenvolvendo um novo projeto, não importa.
#1ª lição: A alta gerência da organização deve estar inteiramente comprometida com a implementação do sistema de qualidade
Não adianta propor as mudanças que a implementação de um sistema de qualidade dispõe para toda a equipe de colaboradores se o alto escalão da empresa não estiver comprometido com elas.
Lembre-se, apesar da liderança não incluir muitas vezes um cargo e função, a alta direção obrigatoriamente é vista como tal. Por isso, o comprometimento da equipe gestora na implantação é fundamental para motivar todos os envolvidos no processo.
As atitudes diante das mudanças são reflexos para todo o time de trabalho.
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#2ª lição: Focar prioritariamente o cliente
As melhorias de processos, redução de custos, diferenciação no produto ou serviço, entre outros benefícios, resultantes de sistemas de qualidade, têm foco exclusivo em tornar a empresa mais competitiva perante o mercado em que ele atua.
Com isso, uma organização se torna mais estruturada com um único objetivo, conquistar os clientes. Para acabar de vez com a resistência, deixe claro como a mudança irá fidelizar ainda mais os atuais e conquistar novos e potenciais consumidores.
Sendo assim, antes de resistir às mudanças que a implementação de um sistema de gestão trará, foque nos benefícios para os seus clientes. Enfim, sem clientes, sem empresa.
#3ª lição: Se apropriar do benchmarking
Aprenda com os melhores. Existem vários casos de empresas que implementaram sistemas de gestão. Elas servem como um norte.
O acesso à informação nunca foi tão fácil. Logo, adquirir informações sobre o concorrente e observar a fundo todas as suas ações tornou-se uma atividade primordial. Com certeza, você encontrará bos práticas que podem ajudar na hora de vencer os obstáculos ao novo.
#4ª lição: Acompanhar de perto os processos mais críticos.
Um dos motivos que geram resistência à mudança, são as dores causadas aos processos mais críticos da organização.
Mais uma vez, a equipe gestora deve estar totalmente comprometida com as mudanças causadas na implementação de um sistema de qualidade. Existem processos cruciais para o funcionamento da organização, os quais, devem receber uma atenção especial.
Para isto, algumas empresas desenvolvem o que chamamos com pensamento baseado no risco, algo muito vivo na ISO 9001. Toda empresa contempla riscos, principalmente quando pensamos em processos. Uma boa prática é descrever através do mapeamento de processos o que determinada mudança pode impactar na saída esperada de determinado processo.
#5ª lição: Atender as demandas e necessidades de todos os colaboradores envolvidos.
Torna-se um esforço inútil impor milhares de mudanças em todos os processos se os colaboradores não forem equipados com as ferramentas necessárias. Sendo assim, identifique todos os recursos necessário, como:
- Quem será o responsável pela condução da mudança?
- Existe alguma ferramenta tecnológica para apoiar o processo?
- Quanto de recurso financeiro vou precisar?
Ou seja, faça um plano de ação para conduzir qualquer tipo de mudança. Mudar sem planejar é prejudicial para o negócio, pois à depender do processo pode ser desgastante e trazer sérios problemas.
Os gestores devem procurar entender as reais necessidades e fornecer instrumentos que auxiliem na execução do projeto.
Não tenham medo das mudanças.
Resisti-las pode atrasar os benefícios encontrados nos sistemas de qualidade. Por isso, foque nos resultados e “vista a camisa”! Com certeza, o alcance de objetivos, mediante o uso de certificações, supera as lembranças das resistências criadas no início do projeto.
Referências:
¹ BROWN, M. G.; HITHCOCK, D. E.; WILLARD, M. L. Porque o TQM falha e como evitar isso. São Paulo: Nobel – Fundação Carlos Alberto Vanzolini, 1996.
² WOOD Jr., T; URDAN, F. T. Gerenciamento da qualidade total: uma revisão crítica. In: WOOD Jr., T. (coord.). Mudança organizacional: aprofundando temas atuais em administração de empresas. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2000.